terça-feira, 24 de junho de 2008







Chegou a hora da fogueira

Lamartine Babo


Chegou a hora da fogueira
É noite de São João
O céu fica todo iluminado
Fica o céu todo estrelado
Pintadinho de balão
Pensando no caboclo a noite inteira
Também fica uma fogueira
Dentro do meu coração

Quando eu era pequenino
De pé no chão
Eu cortava papel fino
Pra fazer balão
E o balão ia subindo
Para o azul da imensidão

Hoje em dia o meu destino
Não vive em paz
O balão de papel fino
Já não sobe mais
O balão da ilusão
Levou pedra e foi ao chão

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Ao Jamelão, os respeitos do Fernando

No sétimo dia da morte do cidadão brasileiro José Bispo Clementino dos Santos, o popular Jamelão


Quando uma figura unânime como Jamelão é convocada para a reunião dos ancestrais, não resta muita coisa para se dizer. Ao contrário do que ressaltou mestre Nei Lopes, não acho que Jamelão teria sido mais reconhecido se seu nome não tivesse tão ligado à história das escolas de samba. É porque o mestre raciocina, como deve ser, pelo lado certo. Quando partem personalidades como Antônio Rago, Canhoto da Paraíba, Darcy da Mangueira, só pra ficar nos recentes, somos nós, as vozes que clamam no deserto, que precisamos assumir nossos pobres púlpitos de caixotes de cebola para nos esgoelarmos em vão pelo que deveria sobrar do Brasil, como memória para a nutrição das gerações vindouras. O incomensurável Jamelão, longe das câmeras globais e das luzes da passarela, seria lembrado com uma notinha de jornal, quando muito, como “o maior intérprete de um certo compositor gaúcho”, como é mesmo o nome? Bem ao contrário, quase tudo já se falou. Falta, como sempre, o que realmente importa.

E o que importa é o reverso do que pretendem os holofotes do xoubiz, que quando miram seus canhões sobre figuras de importância histórica, o fazem segundo a lógica única que conhecem, que é a da mercantilização, da planificação e do rebaixamento de tudo a padrões comerciais. Faltou dizer que Jamelão está entre os nomes que se pode contar nos dedos de uma única mão, a figurar simultaneamente, no círculo máximo dos intérpretes do samba, assim como no olimpo restrito dos mais completos e importantes cantores brasileiros de todos os tempos. Sim, porque escalações certíssimas no primeiro grupo seleto, como Cyro Monteiro, João Nogueira e Jorge Veiga, por exemplo, não apareceriam no segundo. Contrariamente, grandes cantores como Carlos Galhardo e o próprio Francisco Alves teriam dificuldades de serem reconhecidos como sambistas por excelência. Assim, na minha modestíssima, a figura do senhor negro e algo casmurro que desceu ao Orun passados hoje sete dias, fica para a história da música nacional, ao lado de Orlando Silva e Sílvio Caldas, como um dos três maiores cantores brasileiros de todos os tempos. Disse.

Importa ainda – e isso importa demais – dizer que mesmo Jamelão tendo sido tão incensado por quem realmente não tem a menor imporância, JAMAIS se curvou à mentalidadezinha mesquinha daqueles que fizeram por transformar o carnaval das avenidas em um espetáculo para consumo em escalas internacionais. Não gostava de bajulação, de participar de evento, nem de dar entrevista. Sua figura, apesar de tão televisiva e tão popular, não coadunou com os faustões e vìdeoxous da vida. Manteve-se fiel à sua arte e a sua cultura. Nunca negou ser um cantor profissional – mais, aliás: sempre afirmou que só continuava cantando porque precisava ganhar dinheiro para viver. Isso, no entanto, não o impediu de permanecer quase 60 anos fiel à sua escola de fé, bem ao contrário da imensa maioria de seus colegas de ofício. A efígie maiúscula de Jamelão passa para a posteridade, enquanto homem e brasileiro, como exemplo de que profissionalismo não precisa significar venalidade; que popularidade não é sinônimo de vulgarização.

Chega de papo. Peço emprestada a vitrola do meu amigo Felipinho Cereal pra abrir uma exceção e botar pra tocar, aqui no Só dói, na bolacha da vez, o clássico samba-canção de autoria do imenso Lúcio Cardim:


Jamelão - Matriz ou filial


sexta-feira, 13 de junho de 2008

Cai, cai, balão

Assis Valente


Cai, cai, balão!
Você não deve subir
Quem sobe muito
Cai depressa sem sentir
A ventania
De sua queda vai zombar
Cai, cai, balão!
Não deixa o vento te levar

Numa noite na fogueira
Enviei a São João
O meu sonho de criança
Num formato de balão
Mas o vento da mentira
Derrubou sem piedade
O balão do meu destino
Da cruel realidade

Atirado pelo mundo
Eu também sou um balão
Vou subindo de mentira
No azul da ilusão
Meu amor foi a fogueira
Que bem cedo se apagou
Hoje vivo de saudade
É a cinza que ficou!


Marcha gravada originalmente
por Francisco Alves e Aurora
Miranda para a Odeon, em 1933

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Noites de junho

Para quem, como eu, não tem a felicidade de morar no Norte, junho é uma espécie de oásis no deserto que se estende desde a quarta-feira de cinzas até as primeiras vésperas do Natal. Realmente, pra quem é da festa, como o brasileiro, o entre dezembro e fevereiro é um grande desfile de descompromissos, as fatiotas de festas remendadas por retalhos de noites quentes de cerveja e madrugadas. Mas se o resto do ano não consegue ombrear-se em matéria de viver a vida como a gente mais gosta, a grata exceção fica mesmo por conta das festas do chamado “ciclo junino”, que não se restringe a junho – há, inclusive, quem garanta que o termo é originário de “joanino”, por força do ápice das comemorações dar-se na festa de São João – começando timidozinho lá no dia de São José (19 de março), passando pelas festas tradicionais de Corpus Christi e do Divino, para culminar na celebração dos três santos mais festejados: Antônio, João e Pedro.

Se é certo que todo o nosso roteiro festivo anual é marcadamente determinado pelo calendário litúrgico católico – e o Carnaval não é exceção, tendo surgido em função dos quarenta dias de continência que antecedem a Páscoa – o espírito brasileiro, gestado no encontro de torrentes culturais tão diversas, tratou logo de extrapolar os sentidos propriamente religiosos e borrar o traço europeizante. Sem precisar rivalizar com as missas e procissões, o povo logo tratou de fazer a coisa ficar mais animada e foi inventando os bois-bumbás, as congadas, os moçambiques, as quermesses e tudo o mais que fosse de brincar e dançar e cantar e comer e beber. E assim, de norte a sul da nação, a festa de São João, ponto máximo de todo o ciclo festivo, foi se sedimentando como a maior festa popular brasileira.

Ora já ouço daqui os discordantes, empunhando a bandeira do Carnaval. Por certo, haverá nesse um interesse suplementar, em vista do que concerne ao espírito de catarse coletiva e inversões simbólicas de que tanto já se falou. Mas para mim é indubitável que se tomarmos em conta os elementos que fazem uma festa ser tipicamente popular e brasileira, vemos que as louvações aos santos de junho ocupam o primeiro degrau do pódio sentimental instalado no coração tupiniquim. O Carnaval, em verdade, como grande festa de rua, localizou-se por décadas em pólos restritos de grandes cidades como Rio de Janeiro, Recife e Bahia; no mais dos interiores todos, foi sempre mais de salão, ou de um bloquinho aqui ou acolá, para depois instalar-se nos desfiles. Não o São João. Disseminada pelos quatro cantos do país, foi, ao contrário do reinado de Momo, enfraquecida nos grandes centros urbanos, onde tende a manter-se restrita aos ambientes privados, como simples memória folclórica de um sentimento que não está mais vivo. Nos rincões, muito ao contrário, a dança, a comida, o folguedo, o espaço público ocupado ainda são a expressão mais viva da celebração que nega a sucessão indiferenciada dos dia-a-dias, essência maior do que alguém um dia chamou “festa”.

E por dizer tanto do Brasil e de nós é que meu coração banzeia, quando chega São João, de carimbós e bois nortistas, de baiões e sanfonas sertanejas, de quentões e pinhões do Sul, quadrilhas, casamentos, leilões, mastros, bandeiras, pipocas, canjiquinhas, munguzás, foguetórios e balões, muitos balões. O último, vovô começou a fazer, a meu pedido, mas não teve tempo nem forças pra terminar. Esse balão perenemente inacabado é e sempre será o meu coração a vagar, solitário, por imensidões de céus brasileiros, carrregando sonhos e preces, fingido de estrela. Que não se perca por maus ventos. Antes lhe seja dado pousar, apagado, nos braços indulgentes de algum menino.

segunda-feira, 9 de junho de 2008


Yèyè, yèyè, yíyé ó ó
Olúféwa àse omi odò
E oba Koso ayaba ó
Olúféwa àse omi odò

Ó ní ìyá beere
Ó ní ìyá beere ó
Ó ní ìyá beere ó
Ó ní ìyá bè l’òpò omo
Òsun a dé omo wa