
E o que importa é o reverso do que pretendem os holofotes do xoubiz, que quando miram seus canhões sobre figuras de importância histórica, o fazem segundo a lógica única que conhecem, que é a da mercantilização, da planificação e do rebaixamento de tudo a padrões comerciais. Faltou dizer que Jamelão está entre os nomes que se pode contar nos dedos de uma única mão, a figurar simultaneamente, no círculo máximo dos intérpretes do samba, assim como no olimpo restrito dos mais completos e importantes cantores brasileiros de todos os tempos. Sim, porque escalações certíssimas no primeiro grupo seleto, como Cyro Monteiro, João Nogueira e Jorge Veiga, por exemplo, não apareceriam no segundo. Contrariamente, grandes cantores como Carlos Galhardo e o próprio Francisco Alves teriam dificuldades de serem reconhecidos como sambistas por excelência. Assim, na minha modestíssima, a figura do senhor negro e algo casmurro que desceu ao Orun passados hoje sete dias, fica para a história da música nacional, ao lado de Orlando Silva e Sílvio Caldas, como um dos três maiores cantores brasileiros de todos os tempos. Disse.
Importa ainda – e isso importa demais – dizer que mesmo Jamelão tendo sido tão incensado por quem realmente não tem a menor imporância, JAMAIS se curvou à mentalidadezinha mesquinha daqueles que fizeram por transformar o carnaval das avenidas em um espetáculo para consumo em escalas internacionais. Não gostava de bajulação, de participar de evento, nem de dar entrevista. Sua figura, apesar de tão televisiva e tão popular, não coadunou com os faustões e vìdeoxous da vida. Manteve-se fiel à sua arte e a sua cultura. Nunca negou ser um cantor profissional – mais, aliás: sempre afirmou que só continuava cantando porque precisava ganhar dinheiro para viver. Isso, no entanto, não o impediu de permanecer quase 60 anos fiel à sua escola de fé, bem ao contrário da imensa maioria de seus colegas de ofício. A efígie maiúscula de Jamelão passa para a posteridade, enquanto homem e brasileiro, como exemplo de que profissionalismo não precisa significar venalidade; que popularidade não é sinônimo de vulgarização.
Chega de papo. Peço emprestada a vitrola do meu amigo Felipinho Cereal pra abrir uma exceção e botar pra tocar, aqui no Só dói, na bolacha da vez, o clássico samba-canção de autoria do imenso Lúcio Cardim:
Jamelão - Matriz ou filial
Lindo. Adorei.
ResponderExcluirApesar de nunca comentar, estou sempre por aqui.
Beijo com saudade.
Está dito!
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