segunda-feira, 19 de março de 2007

São José


Hoje é dia de São José.

Para os sertanejos, início do ciclo festivo que se estende por várias celebrações populares tradicionais como a Festa do Divino e Corpus Christi, até as festividades dos santos juninos, ocasião em que se colherá o milho que hoje deve ser plantado. Crê-se que se neste dia tivermos chuva, o inverno será chuvoso e a colheita abundante.

Para muitos europeus, como italianos e portugueses é o dia dos pais, por ter sido o venerável ancião pai de criação do Menino Jesus.

Para alguns terreiros do Brasil, o santo padroeiro dos carpinteiros é sincretizado com Oxalufã, o Oxalá “velho”, na tradição brasileira do candomblé. Parece-me que também é sincretizado, menos freqüentemente, com Airá (corrija-me o Velho Simas), “qualidade” pela qual no Brasil é invocado Xangô mais velho.

Para mim é também o último dia do verão, o que me causa uma fina e dolorida melancolia, aliada ao temor hipocondríaco das afecções alérgicas e virais que campeiam pelo outono (toc-toc-toc!).

Para mim-criança, era o dia de ir à casa dos avós austríacos José e Josefina, celebrar o onomástico (dia do santo do seu nome), que é também meu e do meu pai, comemoração tradicional e importante na Europa, em alguns lugares sobrepujando até a do aniversário. Havia, de regra, beliscos de comidinhas e troca de presentes entre os josés. E o mais legal é que os meus tios que se chamam Hilda e Frederico também entravam na dança dos zés, sob o pretexto invocado por vovó de que não houvera, ainda, fredericos ou hildas que se tivessem dignado a morrer após uma existência reconhecidamente piedosa e observante.

Essa é a mais perene lembrança do dia de São José e uma das melhores da minha vida. Peço e confio, de todo o coração, que vovô e vovó venham comer comigo hoje e continuem a verter sempre sobre nós o seu zelo carinhoso, sua sabedoria, sua proteção. E que São José nos abençoe!

Axé!

Um comentário:

  1. Mestre Szegeri,
    esse negócio de Airá é tremendamente complicado. Em algumas casas, Airá é visto como um Xangô mais velho do ponto de vista da idade com que se apresenta. Em outras, dizem que Airá se apresenta como um menino, sendo o Xangô mais velho em relação ao tempo em que se estabeleceu seu culto. De qualquer maneira, sei de algumas casas, sobretudo no Recife, em que Airá é, de fato, sincretizado com São José. Em várias outras é sincretizado com São João. Creio, puro palpite, que as casas que lidam com Airá como um velho o sincretizam com São José. As que o encaram como rapazola, com São João, o Xangô Menino.
    E que ele, de fato , nos abençoe sempre!
    Abração

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