terça-feira, 4 de outubro de 2005

São Francisco



Hoje é dia de São Francisco. Pra não deixar passar, pra marcar esta volta incipiente, pra alinhavar uns tantos sentimentos que têm-me ido. Mineiridades nostálgicas, belezas e chagas de outros brasis, antigos, tão atuais. Desesperanças e enfados, perplexidades e conformismos, luzes e sombras talhados em volutas intermináveis, a sangue e a ouro, pelo cinzel da impiedade capitalista que lavra o destino trágico desta Nação.

São Francisco batiza as três mais impressionantes igrejas que vi, na Cidade da Bahia, há uns dez anos, em São João del Rey, já há vinte, e ora em Ouro Preto, à custa de uns bons minutos - horas não seriam demais - e uma bela cervicalgia, olhar engolido pelo teto de Ataíde, frontões e retábulos do Aleijadinho. Seriam quatro, com mais uma que me apaixonou, pela simplicidade resgatada e pela impudica, reveladora nudez do restauro, no Arraial do Tijuco do Distrino Diamantino: uma dama de três séculos, nua e envergonhada como uma moça-menina.

São Francisco é o rio que só dói e agoniza. E eis que volto e um bispo-frade, em sua magreza obstinada, resolve juntar à morte à míngua do gigante de outrora a sua própria de pequeno e magro, de obstinado. De franciscano. E a dureza dos ouvidos oficiais se faz mais usurpadora pela ignorância dos gritos tantos. Nossos. E mais patética, de uma mesquinhez algo burra, algo bufa, preocupada com as repercussões sobre a audiência do presidente com o Papa. Enquanto o sertão forja, do âmago de seus franciscanos estigmas, mais um conselheiro a bramir nossa grotescência, soberba e surda.

São Francisco, no quase impensável século XIII, é o que largou heranças por sentimentos. E porque temos, até hoje, meu Deus - e até quando? - essa impressionante dificuldade.

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