sexta-feira, 11 de junho de 2004






Luz Valenciana 

(Paulo César Feital) 


Dizem que Deus, 
Cansado do Divino Ofício 
Redigiu um armistício 
Deu um tempo a Satanás 
Se vestiu de jardineiro 
Um velho bem brasileiro 
Pra ter dois dias de paz 

Vasculho a criação 
Com pá e ancinho na mão 
Despiu-se da Onipresença 
Sentou-se numa nuvem imensa... 
De repente achou, enfim, 
Um lugar pro seu jardim: 
A cidade de Valença! 

E como o Senhor é Deus 
E Deus é surpreendente 
Resolveu criar pra Ele 
Um jardim bem diferente: 
Plantou notas musicais, 
Alguns bemóis, sustenidos 
Ao invés de plantar sementes 
Um dó, um ré, um mi, um fá... 
E o chão Ele orvalhou 
Ao som de um choro dolente 

E no centro do jardim 
Deus, estranhamente, plantou 
Uma só roseira 
Que tão delicadamente 
Concebeu uma só Rosa: 
Uma Rosa violeira! 
E o som vindo da flor 
Tocou, enquanto tocou, 
Toda a nação brasileira 
Um dia ela adormeceu 
E nunca mais despertou 
E dizem que Deus voltou 
Vestiu-se da Onipresença 
E todo dia ele chora 
Todo dia à mesma hora 
Sentado na nuvem imensa 

Quem sabe cantando agora 
Não possamos emanar 
Um canto pra despertar 
A nossa Rosinha de Valença! 


Valsa pra Rosinha 

(Jorge Simas / Paulo César Feital) 

Acorda 
Prima bachiana 
Viola essa cama 
Sente a emanação 
Volta, Luz Valenciana, 
Rosa, te chama o bordão 
Sinta o cheiro do absinto 
Sai do labirinto 
Dessa escuridão 
Tua alma ‘inda se engana 
Ronda a forma humana 
Na interrogação 

Sei, talvez, concretizaste 
O sonho que sonhaste 
E foste até o céu 
E, quem sabe até, formaste 
Um duo de chorinho: 
Rosa e Rafael! 

Mas volta ao corpo 
Pois no quarto 
Pulsa em dois por quatro 
O teu coração 

Ah...Rosinha 
Volta prosa, 
Volta Rosa 
Sonha não! 

Dormes, Rosa 
Eu bem sei que dormes 
No “Abismo das Rosas” 
Como na canção 
Abre os olhos 
Como abrem as rosas 
Que o Brasil precisa 
Do teu violão! 

**************************** 

Não há mais interrogação. Depois de tão longa noite, Rosinha ontem finalmente despertou. Num outro jardim. Tocando só para o Senhor, que nunca mais há de chorar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário