quarta-feira, 16 de junho de 2004

25 anos sem Dalcídio Jurandir – 1979/2004



Transcrevo a importante nota abaixo, da parte do Instituto Dalcídio Jurandir, em homenagem aos 25 anos da morte deste grande escritor brasileiro: 


O Instituto Dalcídio Jurandir vem trabalhando com muita determinação a reinserção do nome e da obra do escritor marajoara no horizonte da literatura brasileira e é com grande alegria que já podemos dizer estar quase no prelo, com lançamento previsto para outubro deste ano, o romance Belém do Grão Pará, quarto volume (de 10 romances) do Ciclo do Extremo-Norte que, com o romance Linha do Parque, forma o conjunto da obra que recebeu o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, no ano de 1972. Dalcídio faleceu no dia 16 de junho de 1979, no Rio de Janeiro, cidade que escolheu para viver, desde a publicação de seu primeiro romance, Chove nos campos de Cachoeira, em 1941. 

Belém do Grão Pará é o primeiro relançamento da obra do autor, previsto pela editora Fundação Casa de Rui Barbosa em coedição com a EDUFPa, editora da Universidade Federal do Pará. A FCRB abriga o acervo pessoal do escritor no Arquivo Museu de Literatura Brasileira e prepara-o para que, no menor prazo possível, ele esteja à disposição dos pesquisadores. 

Com uma edição no Brasil e outra em Portugal, esse romance marca sensivelmente as letras cariocas porque conquistou, em 1960, o prêmio Paula Brito da Biblioteca do Estado da Guanabara (em sua última edição) e também o prêmio Luiza Cláudio de Souza, do Pen Club.

O trabalho de preparação textual - com inclusão de notas, introdução e glossário de termos regionais – foi realizado pelas pesquisadoras Marta de Senna e Soraia Farias Reolon Pereira, da FCRB. A programação de relançamento inclui a realização de um seminário inter-regional, que contará com a participação de professores-pesquisadores do norte e do sudeste, para discutir a obra e os temas sempre atuais que ela suscita. 

A seguir, trecho do ensaio crítico Os inocentes da passagem, do professor e filósofo Benedito Nunes, sobre a obra e sobre o romance Belém do Grão Pará: 

“(...)Com paisagens urbanas recorrentes – Cachoeira do Arari e Belém, o vilarejo na ilha do Marajó e a Metrópole, que se personificam na memória de Alfredo, um dos seus principais personagens, se não for a sua figura central como ligação entre os romances componentes, e que mais visceralmente próximo está do narrador, com um estilo indireto livre tendendo ao monólogo – o Ciclo do Extremo-Norte, enxerto da introspecção proustiana na árvore frondosa do realismo, afasta-se das práticas narrativas do romance dos anos 30 - como uma certa construção do meio ambiente e a tendência objetivista documental, afinadas com a herança naturalista - graças à força da auto-análise do personagem e à poetização da paisagem. De maneira precisa, esse afastamento, já marcante em Belém do Grão Pará, se tornará definitivo em Passagem dos inocentes. Este romance se volta, de novo, para Belém, que aquele primeiro abrira num largo panorama urbano, e onde Alfredo já estivera 

Cumpre-nos abrir um parêntese sobre esse panorama. Quem lê Belém do Grão Pará, como o romance dos Alcântara (o casal seu Virgílio/D. Inácia e a filha Emilinha), lê a inteira cidade dos anos vinte, tal como a tinha deixado, após o início da decadência econômica, conseqüente à crise da borracha, que culminara em 1912, as reformas do Intendente (prefeito) Antônio Lemos. O drama daquela família, com a qual vivia Alfredo, drama todo exterior, de perda de status, levando a uma mudança de casa e de rua, está relacionado com aquela decadência. Mas só o curioso Alfredo, dono de mágico carocinho, vê a cidade com olhos poéticos: as ruas sombreadas de mangueiras, o Largo da Pólvora sonolento, com o Teatro da Paz, neoclássico, no meio da verdura, as casas baixas ajaneladas, de corredor ou puxadinha, os sobrados revestidos de azulejos que brilham ao sol (...)” 

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