O título deste blogue, "Só dói quando eu Rio", pretende ser uma homenagem a dois grandes ídolos meus na música, Moacyr Luz e Aldir Blanc, e à própria canção, uma obra-prima. Mas mais do que isso, exprime essa trajetória da minha vida de descobridor do jeito brasileiro de ser, tão serpenteada por rios, do "de Janeiro" até os amazônicos, caudalosos. Estes encarnam um aprendizado para mim fundamental no desvelamento de um olhar tão singular sobre a brasilidade e sobre a humanidade: o olhar amazônico.
Faço essa introdução para assinalar que, após uma fase mais detidamente carioca, outros rios presentes na minha vida irão transbordar por aqui, na expressão feliz de meu irmão Eduardo. Inclusive com textos de outros autores sobre rios (as contribuições serão muitíssimo bem vindas), retomando uma série que eu comecei alhures e não levei a diante.
Começo por assinalar a matéria publicada em "O Globo" deste sábado, sobre o escritor Daniel Munduruku. A segunda parte termina com uma frase que exprime muito do jeito índio de ver o mundo, e que me inspirou a transcrever o belo poema do bardo roraimense Eliakin Rufino, lindamente musicado pelo talentosíssimo cantador amazônico Nilson Chaves:
O Sonho do Xamã
(Eliakin Rufino e Nilson Chaves)
Um xamã yanomami sonhou
que a fumaça da civilização
abriria um buraco no céu
e o céu cairia no chão
O xamã resolveu avisar
o que o sonho queria dizer
mas ninguém parou pra escutar
pouca gente tentou entender...
Muito tempo depois deste sonho
a ciência pode então descobrir
que o buraco na camada de ozônio
é por onde o céu pode cair...
O meu sonho é que nada aconteça
que a vida não tenha final
que o xamã não desapareça
que o sonho não seja real
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