segunda-feira, 26 de janeiro de 2004

Marcão

Eduardo Goldenberg


Carnaval de 2001. Na Avenida Atlântica, em plena Copacabana, acaba de desfilar o Rancho Flor do Sereno, idéia magnífica do Alfredinho, do BipBip. Uma canícula insuportável às dez da noite, ponteiro na casa dos trinta e oito graus, verão maiúsculo, Fernando, o Szegeri (quando o assunto é porre convém sempre indicar o Fernando, pois há o Toledo também, faixa preta no esporte), propõe um chope no Alcazar, ali, na cara do BipBip, sentados no calçadão. Em minutos ali estávamos eu, Fernando e Marcão, mais Aldir, Mariana, Dani, um bom punhado de gente que, somando, já havia bebido o equivalente ao trecho de mar do posto 6 só no percurso do Rancho.

Chega a primeira rodada de chope. Um calor, mas um calor de endoidar, testas pingando suor, o troço estava incomodando. Os chopes são bebidos em velocidade olímpica e pede-se mais uma rodada. Idem, idem, saúde, um brinde, e Marcão pede licença pra ir ao banheiro e pede a terceira rodada.

Veio a quarta. A quinta. A sexta. Antes de pedirmos a sétima, comento com Fernando sobre a demora do Marcão Flinstone. "Vá checar", disse Fernando.

Procurarei ser detalhista e fiel à cena.

Entro pra mijar e procurar o cara. Marcão está sentado na bancada de granito em frente ao espelho. À sua volta, uma dúzia de tulipas vazias, outra cheia na mão, uma porção de lingüiça calabresa, outra de bolinho de bacalhau. Fazia, amigos, provavelmente graças a um defeito que não procuramos investigar, um frio polar no banheiro do Alcazar. Eu rolo de rir no chão do banheiro e do celular ligo pro Fernando pra avisar sobre a festa estranha naquele local esquisito. Ele chega em segundos e, repetindo a cena, cai no chão de tanto rir.

Marcão havia abduzido um garçom que o servia diretamente no banheiro glacial. Em pouquíssimo tempo uma multidão de bêbados, uma horda bárbara dividia espaço na pia, sentada nos vasos sanitários, fazendo dos mictórios depósito de copos vazios. Não adiantou a tática do Marcão quando se dirigiu ao Fernando no instante em que este entrou no iglu: "Não espalha, Fernandão, não espalha... aqui é que é a boa...".

Nenhum comentário:

Postar um comentário