sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Patas-de-vaca


As patas-de-vaca da cidade de São Paulo organizaram-se decididamente para proporcionar o mais belo espetáculo urbano desse ressequido e poluidíssimo mês de agosto. O apelido simpático da Bahuinia forficata faz alusão ao formato de suas folhas, inconfundível para quem aprecia um belo caldo de mocotó. De popularíssimo emprego no tratamento e controle da diabete, as arvorezinhas que grassam pela cidade inteira este ano resolveram exibir com máxima pujança e exuberância (parece-lhes redundante?) as lindíssimas flores que vão do mais inobjetável branco aos diversíssimos matizes róseos e lilases, algumas mesclando inexplicavelmente mais de uma variedade. Com algum exagero chegaria a dizer que estão valendo a visita a esta costumeiramente triste cidade, até porque os ipês e azáleas (era assim que meu avô dizia), afrontados com a inesperada ofensiva, também se têm esforçado em não fazer feio, a despeito do campeonato de 2011 já ter sido abocanhado pelas mimosas bovinodáctilas.

Em tempo, a propósito da última palavra, invenção modestamente bem sucedida deste despretencioso artífice, é imperioso consignar o quão estúpidas, além de aborrecidas, são as reformas ortográficas. O “c” mudo, banido há décadas da versão oficial da última flor do lácio que se vem estabelecendo por estas plagas, não bastasse emprestar indiscutível graça adicional à palavra, clarifica-lhe tamanhamente o sentido e, principalmente, a remissão visual.

Nenhum comentário:

Postar um comentário