quarta-feira, 26 de março de 2008

A mais secreta


A existência de sociedades secretas povoa a imaginação dos povos há muitos e muitos séculos. Geralmente associadas a conhecimentos ocultos de caráter iniciático, hierarquias e fraternidades, sua existência é registrada em culturas que vão do oriente extremo ao Novo Mundo, passando por inúmeras nações européias e africanas desde a antigüidade.

No ocidente europeu as mais conhecidas foram a Ordem Rosa Cruz e a Maçonaria, ambas com origens históricas extremamente controvertidas e cercadas de lendas infindas que localizam suas origens em tempos-lugares tão distintos quanto o Egito de Amenophis IV e a Alemanha reformista dos séculos XV e XVI. Seja como for, é fato que a Maçonaria veio dar nas terras tupiniquins desde os tempos da presença da família real portuguesa, tendo exercido enorme influência política durante os reinados dos dois pedros (José Bonifácio como exemplo supremo – um dos mais poderosos políticos da história brasileira e destacada liderança maçônica) e, mais adiante, boa parte da República a dentro. Também do século XIX é a fundação da famosa Bucha, poderosíssima fraternidade surgida despretenciosamente sob as arcadas da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da qual fizeram parte nove em cada dez figuras influentes da República Velha (dizem que dos primeiros presidentes brasileiros somente Epitácio Pessoa não teria sido confrade).

De toda sorte, se a Bucha perde grandemente seu poder a partir da era Vargas e a Maçonaria ainda anda por aí tentando suas influências - incomparáveis aos tempos d’antanho - hoje revelarei em primeira mão para a seletíssima confraria dos leitores desta semi-secreta revista os traços impressionantes da presença da mais misteriosa de todas as sociedades conhecidas na história da humanidade: o Primeiro e Único Comando das Moças Bonitas.

Não se sabe como ela opera, nem como se organiza, mas a verdade é que são assombrosos os exemplos de seu altíssimo poder de mobilização. Suas ações coordenadas em larga escala impressionam e até inspiram, dizem, organizações de todas as partes do globo, das beneméritas às criminosas. Enganam-se os que acreditam ser a igreja Católica a instituição mais longeva e disseminada do planeta! E o que é mais impressionante: embora seja inegável a sua presença em escala mundial, malgrado não se encontre praticamente quem não tenha em algum momento tido provas inequívocas de uma presença acachapante, sua atuação atinge graus de discrição inigualáveis, ao ponto de haver quem chegue (sem seriedade, é claro) a duvidar de sua efetiva existência.

Não eu, por certo. Ainda mais porque, por obra de uma qualquer sina insondável, seja um dos mais freqüentemente atingidos pelas históricas ondas de ataques orquestrados. Ignoro as razões ocultas dessa constatação estatística, embora desconfie tenham a ver com o fato de circular renitentemente, ao longo da vida, por áreas-alvo conhecidas (uma das poucas informações confiáveis detidas pelos centros de inteligência) como a Avenida Paulista, o Boulevard 28 de Setembro e as Pontifícias Universidades Católicas daqui e dalhures (despiciendo apontar a coincidência de siglas...).

Os homens, por certo, terão maiores e mais evidentes provas empíricas da presença desta impressionante e poderosa organização, embora muitas vezes os alvos primários sejam também as outras moças - ainda que estas tenham, via de regra, mais capacidade de defesa, por inegável afinidade alquímica. Os objetivos últimos, desses nunca ninguém conseguiu obter a mais remota pista. Não se sabe como elas se comunicam, sob que ordens agem ou a quais comandos atendem, mas o fato é que quando você de súbito se apercebe de uma em atitude inusual, a sina do seu dia está irremediavelmente traçada.

Não há possibilidade de contrapor-se ao seu poder. O pacato cidadão põe-se a caminho do trabalho absolutamente indesejoso de qualquer emoção maior que o “bom dia” do ascensorista; mas ele não tem a menor disposição sobre os destinos de seu humor. No momento em que põe os pés no ônibus monocórdio de todas as manhãs, a primeira lhe sorri, assim com os olhos só. Pronto! Daí por diante, todas (eu disse T-O-D-A-S) por-se-ão a perturbar a sanidade inutilmente esquiva do pobre diabo, sob as mais sutis formas de tortura. “Com que motivos?”, perguntareis. Desconheço. Outro dia típico e particularmente duro é o das não-roupas: braços, colos, coxas, insinuações desbordantes de seios e bundas e lá se vai a manutenção da ordem púbica, como dir-se-ia num butiquim qualquer da Tijuca. NUNCA se trata de uma atitude isolada, importante registrar! São ondas... Às vezes, é por temporadas a fio que manobram. Desaparecem, simplesmente. Os olhos nossos vagam, então, por sete mil mares ansiosos de alguma beleza de se ver. Em vão, não preciso dizer. Escondem-se: nenhum traço, nenhuma esperança. De enlouquecer. Quando vão voltando, Deus nos acuda...

A intenção sincera e humilde dessas mal-traçadas é apenas fazer o registro histórico, visto que pouco há para se fazer e gente muito mais apta vem-se debruçando sobre o problema. Um dos maiores estudiosos do riscado, meu mano Julio Vellozo, assevera que há evidências sutis, mas robustas, de que alguns grandes movimentos da história universal tenham-se desencadeado a partir dessas ações conjuntas em escala planetária, em épocas em que sequer sonhava-se com a decantada globalização. A derrota de Napoleão e a deflagração da Grande Guerra seriam exemplos recentes incontestáveis, segundo insiste. No passado mais distante, estariam por trás tanto da decadência do Império Romano quanto da tomada de Constantinopla pelos Turcos.

E nosso pobre Karl – inocente! – perdendo seu tempo com as contradições entre os modos de produção e as forças produtivas. “Limitações ideológicas”, posso ouvir daqui alguém maldando...

Nenhum comentário:

Postar um comentário