sábado, 16 de dezembro de 2006

O pomar e o arroio *


Quem pôde ver a centelha
Luzir em outro dezembro
Esperança em fatiota vermelha
Teimosa ainda a brilhar
Sobre a lapa onde bruxuleava
A chama de Arroyo e Pomar?

Qual solo poderá recusar
Em resistências pudendas
Enfim se deixar fecundar
De dor tornada em apoio
Se transbordou para sempre
Um tão frutuoso arroio?

Qual fome não se sacia
Dos frutos que persistem
A despeito da vil covardia
Obstinadamente em brotar
Sob a sombra benfazeja
De um tão torrentoso pomar?

Da seiva tenaz do Araguaia
Quem poderia contar
Que tão desprezível laia
Gerasse o inominável joio
Entre o trigo mais bem cevado
Pra trair Pomar e Arroyo?

Qual infâmia deterá o Rio
Imenso de pororocas caudalosas
As margens opressoras a fio
Dia e noite a solapar
Amazonas de leito inundado
Do sangue de Arroyo e Pomar?


*Em honra aos heróis do povo brasileiro
Ângelo Arroyo e Pedro Pomar
nos 30 anos da Chacina da Lapa


Nenhum comentário:

Postar um comentário