segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Voltando o troco - Parte I

"Eu lhe dei vinte mil réis pra pagar três e trezentos
Você tem que me voltar dezessete e setecentos"

(Dezessete e setecentos,
calango de Luiz Gonzaga e Miguel Lima)



- Aê, todo mundo quietinho aí que eu só quero a grana, rapidinho!
- Peraí...
- Peraí, o quê, mano??? Abre logo essa porra!
- Quero falar contigo...
- Falar o quê, Portuga, tá me estranhando?
- Não, tou te conhecendo, é por isso...
- Ô, galego, quer que eu te arrebente a fuça? Tá ligado que eu não sou de lero-lero, vamo logo!
- É que eu fui assaltado semana passada...
- Que que eu tenho com isso, mané? Semana passada não fui eu, só tou querendo a minha!
- Exatamente! Não quero mais outro, só quero ser assaltado por você!
- Como é que é, loco?
- Exclusividade! Quero que você seja meu personal assaltante...
- Qual que é, Seu Joaquim, tá querendo atrasar o meu lado? É a décima vez, tu nunca foi de me embassar? Vou acabar fazendo uma merda aqui...
- Um plano de assalto... Pago a mensalidade, você vem aqui, recebe direitinho, não precisa de revólver, incomodar a clientela, correr risco, os homens vivem por aí...
- Hã?
- E eu também não preciso ficar encarando canhão na minha cara... Aliás, tu poderias baixar esse troço e vir aqui pra trás pra gente conversar direito.
- Haannn.... E onde entra a minha parte, o Mané? Tá achando que eu sou otário?
- Você só vai prestar o seu serviço normalmente. Em vez de me assaltar toda semana, passa aqui no fim do mês e leva a tua parte. Só preciso da exclusividade.
- Cumé que é, truta?
- Seguinte: tu não podes deixar ninguém mais me assaltar. Dá aí teu jeito, a tua parte tá garantida, mas eu não estou em condições de bancar mais de um plano por mês.
- Êeeta, Portuga, até que não era má idéia...
- Se você preferir, em vez de vir aqui, pode deixar aí o boleto.

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