segunda-feira, 10 de julho de 2006

Da morte da liberdade

ou Entendendo os amigos do Zé Sérgio III


"A constatação de Marx acerca do trabalho na fábrica, segundo o qual 'o próprio indivíduo é dividido, transformado em engrenagem automática de um trabalho fragmentado' e, desse modo, 'atrofiado até se tornar uma anomalia', verifica-se aqui de modo tão mais evidente quanto mais elevados, avançados e 'intelectuais' forem os resultados exigidos por essa divisão do trabalho. A separação da força de trabalho e da personalidade do operário, sua metamorfose numa coisa, num objeto que o operário vende num mercado, repete-se igualmente aqui. Porém, com a diferença de que nem toda a faculdade mental é suprimida pela mecanização; apenas uma faculdade ou um complexo de faculdades destaca-se do conjunto da personalidade e se coloca em oposição a ela, tornando-se uma coisa, uma mercadoria. Ainda que os meios de seleção social de tais faculdades e seu valor de troca material e "moral" sejam fundamentalmente diferentes daqueles da força de trabalho (não se deve esquecer, aliás, a grande série de elos intermediários, de transições insensíveis), o fenômeno fundamental permanece o mesmo. O gênero específico de 'probidade' e objetividade burocráticas, a submissão necessária e total do burocrata individual a um sistema de relações entre coisas, a idéia de que são precisamente sua 'honra' e seu 'senso de responsabilidade' que exigem dele semelhante submissão, tudo isso mostra que a divisão do trabalho penetrou na 'ética' - tal como, no taylorismo, penetrou no 'psíquico'. Isso não é, todavia, um abrandamento, mas, ao contrário, um reforço da estrutura reificada da consciência como categoria fundamental para toda a sociedade. [...] E o 'virtuose' especialista, o vendedor de suas faculdades espirituais objetivadas e coisificadas, não somente se torna um espectador do devir social [...], mas também assume uma atitude contemplativa em relação ao funcionamento de suas próprias faculdades objetivadas e coisificadas. Essa estrutura mostra-se em seus traços mais grotescos no jornalismo, em que justamente a própria subjetividade, o saber, o temperamento, a faculdade de expressão tornam-se um mecanismo abstrato, independente tanto da personalidade do 'proprietário' como da essência material e concreta dos objetos em questão, e que é colocado em movimento segundo leis próprias. A 'ausência de convicção' dos jornalistas, a prostituição de suas experiências e convicções só podem ser compreendidas como ponto culminante da reificação capitalista." (sem sublinhado no original)

(Georg Lukács*)

*in História e consciência de classe, São Paulo: Martins Fontes, 2003, pp. 220-222

6 comentários:

  1. Foda-se o Lukács.

    ResponderExcluir
  2. A filosofia em estado bruto repete seus postulados. Fernandão: tem algum texto desses aí para esculachar juiz de direito, ou só jornalista? Tô precisando de unzinho.

    ResponderExcluir
  3. Esse mesmo aí é perfeito, Marcão. Ele cita "a jurisprudência" entre os intelectuais reificados-vendidos, não sei se mais adiante ou no trecho que eu suprimi.

    ResponderExcluir
  4. E vamos notando, querido mano Szegeri, que nossa Dinda está mais-do-que-esclerosada.

    Brada, como um velho babão em clínica geriátrica no setor de psiquiatria, agredindo tudo o que vê pela frente.

    Dá pena, não dá?

    ResponderExcluir
  5. Meia hora basta, Edu.

    ResponderExcluir
  6. Dadas as poucas luzes intelectuais que o nobre magistrado a que me refiro demonstra possuir, Fernandão, creio que será mais eficaz, ao menos por essa vez, sugerir ao mesmo que dê meia hora de bunda para distrair o cu, como diria Zé Sérgio

    ResponderExcluir