sexta-feira, 7 de julho de 2006

Da morte da crítica

ou Entendendo os amigos do Zé Sérgio II


"Na expressão desses hábitos [sociais] de pensar, a tensão entre aparência e realidae, fato e fator, substância e atributo, tende a desaparecer. Os elementos de autonomia, descoberta, demonstração e crítica recuam diante da designação, asserção e limitação. Elementos mágicos, autoritários e rituais invadem a palavra e a linguagem. A locução é privada das mediações que são as etapas do processo de cognição e avaliação cognitiva. Os conceitos que compreendem os fatos, e desse modo transcendem estes, estão perdendo sua representação lingüística autêntica. Sem tais mediações, a linguagem tende a expressar e a promover a identificação imediata da razão e do fato, da verdade e da verdade estabelecida, da essência e da existência.

Essas identificações, que aparecem como uma particularidade do operacionalismo, reaparecem como características da locução no comportamento social. Aqui, a funcionalização da linguagem ajuda a repelir os elementos não-conformistas da estrutura e do movimento da palavra. O vocabulário e a sintaxe são igualmente afetados. A sociedade expressa as suas exigências diretamente no material lingüístico, mas não sem oposição; a linguagem popular ataca com humor rancoroso e desafiador a locução oficial e semi-oficial. A gíria e a linguagem familiar raramente se mostraram tão criadoras. É como se o homem comum (ou seu porta-voz anônimo) reafirmasse sua natureza em sua palavra, contra os poderes existentes, como se a rejeição e a revolta, subjugadas na esfera política, explodissem no vocabulário que dá às coisas seus verdadeiros nomes [...]

Contudo, os laboratórios da defesa, os gabinetes dos diretores, os Governos e as máquinas, os controladores de ponto e os gerentes, os técnicos em eficiência funcional, os salões de beleza dos políticos (que garantem aos líderes a maquilagem apropriadas) falam uma linguagem diferente e, portanto, parece ser deles a última palavra. É a palavra que ordena e organiza, que induz as pessoas a fazerem coisas, comprar e aceitar. É transmitida num estilo que é criação lingüística autêntica; uma sintaxe na qual a estrutura da sentença é abreviada e condensada, de modo que não é deixada tensão alguma, "espaço" algum entre as partes da sentença. Essa forma lingüística milita contra o desenvolvimento do significado. [...]

... [A] funcionalização da linguagem expressa uma condensação de significado que tem uma conotação política. [...]

Nos pontos nodais da locução pública aparecem proposições analíticas auto-validantes que funcionam como fórmulas mágico-rituais. Marteladas e remasteladas na mente do receptor, produzem o efeito de incluí-la no círculo de condições prescritas pela fórmula."

(Herbert Marcuse*)

* in A Ideologia da Sociedade Industrial, Rio de Janeiro, Zahar, 1982, pp. 93-95)

3 comentários:

  1. Anônimo7/7/06 19:08

    Foda-se o Marcuse.

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  2. Anônimo9/7/06 00:17

    Muito bem, Zé Sergio, muito bem!!! Eis a filosofia em estado bruto.

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  3. Anônimo9/7/06 12:35

    Marcão, a viadagem (com i) dos titulares de duas certas revistas eletrônicas que nos são caras, neste período de TPM (Tensão Pós-Mundial), está me preocupando. Qualquer dia desses iremos encontrá-los em algum belmonte bebendo naqueles copos com sombrinhas.

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