terça-feira, 16 de maio de 2006

Terça-feira de cinzas

Manhã de cidade esvaziada, movimento muito abaixo do normal, clima geral de ressaca de um não-carnaval onde o morro, efetivamente, desceu. E tenho que me confessar verdadeiramente aterrorizado.

Aterrorizado com a irresponsabilidade e a falta de mínimo compromisso ético de veículos de comunicação de massa, concessionários de serviço público, a disseminar indiscriminadamente um sem número de boatos com o intuito único do faturamento comercial. Esses deveriam ser os primeiros bandidos a serem presos.

Aterrorizado com a facilidade com que uma população inteira, capitaneada por uma elite com acesso a automóveis e computadores, se deixa irracionalmente levar ao estado de pânico; seu absoluto estranhamento e despreparo em relação ao mundo de violência que domina o cotidiano de noventa por cento da população brasileira.

Aterrorizado pelo desfile de autoridades e pseudo-analistas em dezenas de depoimentos absolutamente - quero repetir: ABSOLUTAMENTE - incapazes de passar da estrita superficialidade dos fênomenos ocorridos, tratando de reduzí-los a implicações e explicações de cunho administrativo-gerencial, a única lógica que a sociedade coisificada parece capaz de compreender. Debater sobre formas e modelos desprovidos de conteúdo material é o que eles sabem, incapazes de lidar com contradições gritantes de forma minimamente operacional. Que fazem diagnósticos franceses, advogam soluções estadunidenses, sem perceber que nossa sociedade tem muito menos em comum com Holanda e Canadá do que com Ruanda ou Burundi.

Aterrorizado pelo fato de que nem a de certa forma inédita e generalizada eclosão de um estado extremo de violência possa dissuadir a média da opinião pública da idéia suicida de que a repressão deva ser intensificada. De que as pessoas continuem a pedir mais e mais violência e não percebam que é precisamente a inexistência de controles e limitações racionais do modo de proceder do aparelho repressivo que gere um campo de disputa onde vencerá o mais apto a dominar esses modos de atuação. Quando o estado usa irracional e ilimitadamente a violência - de cujo uso deveria deter o monopólio justamente por usá-la de forma estritamente racional - joga-se em uma batalha a priori perdida: os "inimigos" serão sempre mais numerosos, estarão sempre em posição geográfica provilegiada, mais disseminados, mais escondidos, mais motivados e com menos a perder.

Aterrorizado pela incapacidade das pessoas mais próximas em compreender que o clamor por uma interpretação que leve em conta a estrutura violenta da sociedade brasileira, baseada na hierarquia, no privilégio de castas e estamentos e historicamente mediada pela repressão, não configura sociologismo despreocupado de resolver as questões emergenciais que se põem para o reestabelecimento da normalidade social. Mas que, ao contrário, num momento agudo de crise, só um esforço profundo para compreender os complexos processos econômicos, políticos e simbólicos é via apta à reconstrução de alguma racionalidade capaz de desviar a rota deste nosso trem desgovernado rumo à completa dissolução das formas civilizadas. Falando na linguagem direta que a situação exige: é preciso dialogar e se entender com a bandidagem, não para se curvar quando a situação não tem mais remédio, mas para estabelecer padrões mínimos de interlocução que ponham frente a frente as forças sociais que eles representam, de um lado, e o estado de direito, de outro. É hora de encararmos que as massas excluídas, das quais a criminalidade é somente uma das vozes (a mais poderosa, por óbvio), representam uma força social presente e efetivamente constitutiva do modelo sócio-econômico que criamos e não uma anomalia na ordem constituída que se possa enfrentar reprimindo. E como tal merecem respeito, senão por sua dignidade humana abstrata, pela capacidade que adquiriram de fazer valer seus interesses, língua que a sociedade capitalista entende bem.

Aterrorizado com a passiva perplexidade das forças políticas sinceramente comprometidas com a transformação da sociedade brasileira, sua completa incapacidade de enxergar as formas presentes de negatividade que dominam as sociedades capitalistas periféricas, presas a diagnósticos historicamente desatualizados e a práticas políticas estratégicas elaboradas em face de realidades hoje superadas, se é que em algum dia tiveram lugar entre nós. Incapazes que são de perceber como as formas de opressão social e de destruição do indivíduo há muito deixaram de se restringir à extração da mais-valia, não vêem que não é mais o proletariado a encarnação da negatividade que move dialeticamente a História, muito menos que esse movimento possa não nos levar aonde pensávamos que levaria. Ignoram a complexização das formas opressivas que ensejam no substrato simbólico coletivo a identificação das vozes da resistência indistintamente com o PCC, Che Guevara e Osama Bin Laden. Enquanto estamos preocupados em ganhar os congressos estudantis e dirigir as entidades sindicais, o bonde da História está a depositar em outras mãos as forças de dissolução da ordem burguesa.

Este espaço propõe-se há quase dois anos e meio a falar de cultura. E é de cultura que se vai continuar a falar, é de cultura que se PRECISA falar, antítese única e possível da barbárie.

12 comentários:

  1. Meu caro,

    Permita-se discordar. Não acho necessário ou mesmo possível qualquer diálogo com a bandidagem. Pode me chamar de reacionário ou o que for, pois a muito me desinteressei pelos rótulos e, em certos momentos, sinto-me até orgulhoso de receber certos patrulhamentos, embora me sinta cada vez mais progressita, muito mais que a média e muito, mas muito mais do que muitos dos que se intitulam "de esquerda".

    Bandidagem tem que ser tratada na base do enfrentamento mesmo, mas dentro da lei, é claro.

    Diálogo deve destinar-se não à bandidagem, e sim às comunidades carentes, especialmente aos grupos ali organizados que lutam, sem qualquer apoio do estado, para criar alternativas à barbárie, através da promoção da cultura, de esportes, da melhoria dos locais em que vivem ou de projetos sociais. Esse diálogo raramente ocorre e só ocorrerá se forem muito pressionados, vez que nossos governantes, interessados em falar pelo povo, não quer que o povo fale por si mesmo.

    É preciso, também, que se reconheça que os partidos políticos em geral, cada vez mais distantes da sociedade, tem funcionado como um elemento nefasto na sociedade brasileira.

    Submetem problemas sérios e reivindicações mais que justas a ridículos projetos de poder e uma lógica eleitoreira mesquinha, sendo que quando tais projetos de poder atingem êxito a população submetida a esse projeto não é beneficiada em absolutamente nada.

    Em nome disso, tudo vira messianismo, propaganda e superficialidade. É muito óbvio que daí nada de bom poderá advir.

    Um pequeno exemplo: o comportamento do Governo Federal e do Governo Estadual nesse episódio, seja nas ações anteriores a esse episósio, seja durante, é de fazer vomitar o mais moderado dos cidadãos.

    Paro por aqui.

    Marcão

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  2. Marcão, meu caro, Szegeri, meu barato: preciso discordar com veemência de você, Marcão. E concordar, vibrando e de pé no banquinho imaginário, com o Szegeri, hoje mais Otto que nunca com a publicação desse texto que, lamentavelmente, vai encontrar eco em não mais do que uma centena de pessoas, e de longe o troço mais sensato que já li sobre o palpitante assunto.

    Não é possível, Marcão, dispensar o diálogo com a chamada bandidagem (explico já, já porque valho-me desse chamada aqui) justamente porque é ela a voz dos membros das comunidades carentes, especialmente aos grupos ali organizados que lutam (...), como você mesmo se referiu. É ela quem dá, ainda que por vias tortuosas, assistência a essas comunidades. E falo desde coisas supérfluas chegando a coisas mais fundamentais, e explico: é a "bandidagem" que oferece TV a cabo pra essas comunidades; de graça. É a "bandidagem" que subsidia o gás de cozinha para essas pessoas. E é a bandidagem que oferece segurança (isso não pode te soar como ironia) e emprego (idem idem idem) à juventude.

    Agora vou ser o que você chama de esquerda. Ou brizolista. Ou maluco, porra, não sei. Mas porque os membros do PCC são chamados de bandidagem e os políticos homicidas não? Onde a violência de um líder do Primeiro Comando da Capital difere da violência de um Paulo Maluf que tira a vida de milhares de pessoas quando desvia o dinheiro público para a cave que há no subsolo de sua mansão e para contas no exterior? Porque a Polícia Civil do Rio de Janeiro, que comprovadamente funciona como um duto de dinheiro sujo para financiar a campanha de Anthony Garotinho ou mesmo do Álvaro Lins, é vista como "polícia" e não como "bandida"????? Porque as pessoas insistem, diante da violência, como aqui no Rio, na zona sul notadamente, em estender na janela uma faixa escrito BASTA sem pensar em qual fenômeno efetivamente tem de ser interrompido? Por que, Marcão?

    Por que você pede que a "bandidagem" (qual?????) seja tratada dentro da lei. Qual lei, meu amigo? A quem serve a lei? Quanto custa, Marcão, subvertê-la em prol de quem a sustenta?, numa espiral viciada que, ela sim, enoja o mais boçal dos cidadãos.

    Parece - eu disse parece, embora eu acredite que haja algo mais profundo ainda não chegado à tona -que uma das reinvindicações desses caras do PCC é com relação à condição das cadeias públicas.

    Pergunto, Marcão: atende à Lei a condição das cadeias? Qualquer Lei, malandro! Nacional. Estadual. Lei Universal. Carta de Direitos. Atende? Não. Não atende.

    Mas os cidadãos estão em casa, vendo TV, cuidando de seus bebês, qualquer coisa... E nada é capaz de fazê-los perceber que milhares de seres humanos são tratados como bichos, comendo comida podre, sem higiene, sem a mínima condição. Uma vaca de propriedade do Sr. Jorge Picciani, presidente da ALERJ, processado e investigado sem que nada lhe toque, faria greve de leite se passasse umas horas numa dessas cadeias.

    Os hospitais públicos não funcionam, Marcão. Mas o que importa? O cara da TV que tem uma filhota paga plano de saúde. Foda-se o estado dos hospitais públicos.

    As escolas públicas não prestam. Que importa? O carinha da TV que paga plano de saúde pra família tem creche, vai ter escola cara, curso de inglês e o escambau.

    Há, sim, que se ouvir essa gente, Marcão.

    Há, sim, que se fazer todo e qualquer esforço para que haja, ainda que aos poucos e lentamente, princípio de entendimento, arrefecimento dos ânimos, convergência dos interesses e diminuição, efetiva, desse abismo que só diminui quando o parâmetro é o medo.

    Aí fica foda, meu irmão. Muito foda. E veja (pra fechar, que esse já é o maior comentário que já fiz em qualquer blog...): por que será que as três facções mais fortes daqui do Rio (TC, CV e ADA) não farão - salvo engano - movimento semelhante por aqui? Um porque aqui eles estão ligados apenas no lucro obtido com a venda das drogas, e dividem - é evidente - esse lucro com a polícia. O bicho aqui só pega quando uma das partes - geralmente a polícia - quebra a palavra e o trato. Dois porque aqui, ainda, não há interesse desses grupos em obter representação efetiva na malha política, aí há. E eu entendo que o PCC está certo - eu disse "certo" e não que eu concordo com as coisas, é óbvio - quando se vale de metódos capazes de fazer acordar o bandido que está investido de um cargo qualquer. É a única saída? Que assim seja.

    Resumindo, malandro: ou parte-se para o diálogo, para a negociação, para a conversa às claras - sem papinho babaca de trégua... - ou a tendência é piorar. E muito.

    Abraço.

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  3. Edu,

    Vamos lá. Me parece que você ataca coisas que eu não disse e nao quis dizer, talvez eu tenha me explicado mal. Em primeiro lugar, todos nõs sabemos, e estamos de acordo, que cadeias como as que temos são profundamente desumanas e caldo de cultura para mais violência. Reinvidações de humanização das cadeias públicas, evidentemente são justas, e nesse ponto os presos ou os bandidos podem e devem ser ouvidos, posto que são eles as vítimas desse sistema prisional profundamente injusto, concordamos.

    Não se há de discordar, também, que há bandidagem, e da grossa, institucionalizada, seja na polícia, seja através de governos estúpidos e corruptos, seja em outras áreas. Concordemos, portanto, quanto ao óbvio.

    Aliás, isso não é esquerdismo, ou se é, pouco importa, merece toda a concordância. Quando falo em combate "dentro da lei", ora, estou dizendo: direitos humanos, julgamentos justos, respeito aos direitos dos presos, especialmente na fase de cumprimento da pena, cadeias severas, mas não desumanas, e todos os etcs. possíveis e imagináveis que daí, pela lógica, decorrem.

    O que não concordo, e aí peço licença a vocês, mas mantenho minha posição com muita convicção, é que a bandidagem possa ser vista como voz das comunidades carentes e, mais do que isso, uma instância legítima de negociação, como se representassem essas comunidades.

    Não é o fato de levarem gás e TV a cabo, ou seja lá o que for (talvez concorrendo com o Bolsa Família) que lhes dá legitimidade para falar em nome dessa comunidade.

    Todos sabemos que, ao contrário, eles mantém a comunidade oprimida e usam aquele espaço físico apenas para a defesa dos interesses próprios.

    Concordo com a urgência de interlocução com comunidades carentes, mas porra, existem outros atores para essa interlocução. Estão aí as associações comunitárias, as organizações de favelas, as ONGs que atuam nessas comunidades, algumas dessas iniciativas com resultados bastante positivos.

    Como é que se negocia com bandidos? Oferece-se o que, em troca do que? Melhorias para a comunidade sensibilizariam? Trocariam eles assaltos ou ataques a ônibus por escolas públicas, ou por melhores condições em cadeias públicas, ou por melhores hospitais? Para negociar, há que se ter o mínimo de confiabilidade no interlocutor. Isso existe com os bandidos? Há algum sentido social, ainda que mínimo, nas ações da chamada "bandidagem"?

    Há que se defender, na minha opinião, o Estado de Direito MESMO, e sei que nesse ponto é que posso despertar uma certa "ira esqueridsta", mas não me importo nem um pouquinho sequer. E aí, que todas as formas de bandidagem, sejam as dos ricos (que são muitas, mais graves e mais nefastas, não há dúvida), sejam as dos pobres, sejam combatidas. É o que penso.

    Grande abraço

    Marcão

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  4. Marcão: eu não sei se o Pompa vai ficar exatamente feliz com esse uso de seu espaço, mas vou ao embate, embora prefira mil vezes que você venha ao Rio para discutirmos isso e outras coisas no Rio-Brasília ou no Quitutes da Vovó.

    Querido, se lhe pareceu que ataquei coisas que você não disse e não quis dizer, perdoa-me.

    Vamos lá. Aqui você diz que quando fala em combate dentro da lei está dizendo direitos humanos (não são respeitados, julgamentos justos (só há julgamentos ju$to$ assim, com o cifrão no lugar do "s"), respeito aos direitos dos presos (peço licença para uma gargalhada)...

    E deixe-me meter o bedelho, sem com isso querer soar como a voz da verdade, mas é que por razões que não vêm ao caso eu, de certa forma, convivo muito de perto, ao menos aqui no RJ, com muita gente que mora ou nas favelas ou em comunidades muito, mas muito carentes mesmo. O que você chama de bandidagem é, sim, a voz dessas tais comunidades carentes, dessas pessoas. E por muitas razões. Porque é ela a única que ouve a voz miúda dessa gente. É ela a única que oferece qualquer perspectiva a essa gente (mesmo que curta, de vida, em forma de emprego). É ela a que a defende, na marra, da violência dos policiais que tratam a população desses lugares como uma coisa só.

    É verdade que não é o fato de levarem seja lá o que for a essas pessoas que lhes dá legitimidade para FALAR em nome dessas comunidades. Mas isso contribui. E muito. E há, Marcão, é preciso ser gente humilde pra entender isso... mães lavadeiras com filhos no comando do tráfico... Soldados de bocas-de-fumo com irmãos funcionários públicos... Babás, lavadores de carro, com ligações, de sangue e/ou de afeto, com bandidos, com assaltantes, com traficantes, transformando esses nichos numa teia mais complexa do que possamos imaginar.

    Sabemos, é vero, que, não ao contrário mas TAMBÉM por isso, eles mantém a comunidade oprimida e usam aquele espaço físico apenas para a defesa dos interesses próprios. Quem não o faz, Marcão? Diga-me. Quem não o faz?

    Você não desperta minha ira, malandro, defendendo o Estado de Direito. Você desperta a minha ira quando não levanta essa bunda dessa cadeira e não vem ao Rio beber comigo, porra! Vou seguir.

    Mas o Estado de Direito tem de ser pleno. Soubesse eu como negociar, ou conversar, ou seja o que for, com esses líderes das facções do crime (como é o PSDB, por exemplo), e te daria a receita.

    Mas há que se perseguir a forma, mano. Fingir que eles não existem. Fingir que eles não têm autoridade. Ignorá-los, repito, vai tornar tudo muito pior.

    E quer saber uma coisa? Você falou em confiabilidade no interlocutor, certo?

    Eu confiaria mais no Fernandinho Beira-Mar do que no FHC. Do que no ACM, o velho, o filho-morto ou o neto.

    Disse meu guru: "Sou muito mais, numa boa, Itajara com as Três Coroas. Todo mundo afana, da gangue do Escadinha, ao Seu Bacana, só que a Falange Vermelha ao menos GOVERNA em cana".

    É isso.

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  5. Edu,

    Voltei aqui porque sabia que você também voltaria!!!!! Veja que, apesar de ainda não nos conhecermos tão bem quanto poderíamos, saquei que temos pelo menos um traço comum de personalidade: a disposição infinita para uma boa polêmica.

    E é justamente por isso que vou encerrar a minha participação, ao menos por ora.

    Quero apenas dizer que prefiro buscar a interlocução com as lavadeiras, os funcionários públicos e as babás do que os que seguiram o caminho de certa forma oposto, ainda que com esses tenham laços consanguíneos, mesmo sabendo que bandidos não seu ETs, ou a encarnação do mal, como alguns pensam.

    De resto, apenas para consignar.

    Quando falo de despertar uma "ira esquerdista", falava mais em tese mesmo, não estava pessoalizando. E também não é dirigida especificamente a ninguém.

    É que ando com um certo prazer de chocar alguns consensos que vem me parecendo, já algum tempo, sem sentido. Talvez esse trecho esteja mesmo fora de contexto.

    Quanto à ira que desperto por não ir até o Rio, entendo-a justíssima e pretendo, em breve, aplacá-la.


    Grande abraço

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  6. Marcão: mas que coincidência, malandro!!! Também voltei para dar a última palavra (veja que se você não desistir ou pedir arrêgo, ou mesmo cansar, isso não terá fim).

    Ao contrário de você, que prefere buscar a interlocução com as lavadeiras, com os funcionários públicos e com as babás ao invés de fazê-lo com os que seguiram o caminho oposto (a expressão é tua, e eu prefiro, ainda que forçando a barra, falar em caminho imposto), eu creio que não é possível chegar-se a um projeto de saída do problema sem ampla discussão com todos os setores; bandidos, malandro, não são ETs ou mesmo a encarnação do mal, como alguns pensam. Bandidos são rotulados como bandidos por mero vício maniqueísta, sinceramente. Volto a dizer. O Maluf é mais bandido que o Beira-Mar. Os ACM (o vovô, o filho-morto e o netinho) são mais bandidos que o Uê, sentadinho na mesma nuvem que o ACM do meio.

    Por último, por hoje, um conselho... Se você anda MESMO com vontade de chocar alguns setores, Marcão... putamerda... Isso não é difícil. Vamos beber uma dúzia, pra saída, que te dou várias dicas de chocar o povo, a começar pelo do balcão mesmo.

    Abraço.

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  7. Edu,

    Não precisa partir pro esculacho, que eu não estou a fim de chocar nem o povo, nem ninguém em balcão de Buteco. De resto, como anunciei no e.mail anterior, eu já desisti, porra!!!

    Abraço

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  8. Marcão: se você já desistiu, meu caro, então não queira dar a última palavra, pô! Ou vamos enlouquecer o Pompa.

    Em tempo: os jornais do Rio - nojentamente - parecem estar comemorando o fato de que em SP a violência é mais violenta do que aqui.

    Ô, tempos!

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  9. Marcão e Edu, meus grandes amigos, manos do peito. Vocês não imaginam como amei a polêmica; afinal, é pra isso que eu ainda gasto tempo tentando escrever. Duas pessoas por cujas honestidades eu daria minha vida; comprometidas até a alma com a justiça, a liberdade e o banimento da opressão. E dois diagnósticos opostos em relação ao tema. Porque as concepções aqui esposadas são inconciliáveis.

    Marcão, não me surpreendem as tuas colocações e admiro, de coração, a coerência, desde que você abandonou as premissas do raciocínio dialético. Porque, meu amigo, só pensando dialeticamente é possível compreender que o diferente de nós ainda compartilha muita coisa conosco, inclusive a legitimidade para o diálogo. Que mesmo que o outro represente o negativo daquilo que almejamos ou projetamos para nós mesmos, ainda pode ser sujeito interlocutor, pode ter ponto de vistas legítimos a defender. Lembre-se que tantas vezes defendemos juntos que a pior forma de autoritarismo é a desqualificação a priori do interlocutor. Por que haveria aqui uma exceção a esse princípio? Logicamente, qualquer exceção que você admita te levará a negá-lo!

    Um pensamento que abdica de que um julgamento sobre a realidade se componha de contradições que se negam mutuamente, não pode compreender, como o Edu demonstrou magistralmente, que não há possibilidade objetiva de se separar quem é o quê nos segmentos marginais da sociedade; nem que a mão que mate e seqüestre também proteja, cuide, ajude. Não consegue compreender, muitas vezes, como uma associação de bairro que atua fortemente na defesa dos interesses comunitários, composta por gente trabalhadora, esteja de tal forma enredada com o tráfico que não se possa estabelecer qualquer pressuposto de diálogo deixando de levar em conta essa realidade.

    A lógica que você abraça, Marcão, renuncia ao enfrentamento de qualquer conteúdo materialmente contraditório. Operando por oposições mutuamente excludentes é que você pode determinar – e isso está nos teus comentários - a partir do teu ponto de vista particular (e não se esqueça que também a lei, o direito surgem a partir de pontos de vista particulares, de partes da sociedade que se fazem representar formalmente) quem é o bandido, quem são os interlocutores habilitados, inclusive quem é ou não legítimo pra falar em nome de alguém.

    O diálogo que eu preconizo não é esse diálogo do “toma lá, dá cá”, que é a única forma de diálogo que essa racionalidade formalizada pode compreender. Esse diálogo concebido dialeticamente é de inclusão de um ponto de vista oposto (e contraditório) em relação à organização burguesa da sociedade para a discussãoinclusive das leis, inclusive dos modos de proceder do aparelho repressivo, inclusive das práticas políticas do estado.

    Por fim, a abordagem estritamente formal da questão não consegue compreender que é materialmente impossível que o aparelho repressivo estatal atue dentro de qualquer forma de controle, ainda que esse controle seja o da legalidade burguesa construída para defender interesses da parte dominante da sociedade. É fato que qualquer aparelho repressivo tende a se autonomizar, seja ele a Gestapo, as Oban’s ou a Rota. Portanto, materialmente não existe possibilidade de enfrentamento sem excesso, sem violação. Obviamente o uso da força pelo estado há que ser preservado, mas como um elemento a mais no diálogo que preconizo e não como forma limite de fazer valer a voz seja da lei, seja de um policial desequilibrado, amedrontado, com um senso bem particular de justiça, ou com ímpetos de vingança pessoal.

    De resto, tenho que assinar embaixo as palavras do Edu, com uma pequena discordância: a melhor coisa que se escreveu sobre o assunto foi um artigo na Folha de S. Paulo de hoje, que transcrevo no comentário abaixo.

    Quanto ao mais, meus manos, parabéns e obrigado, de coração.

    Beijo fraterno!

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  10. Caros, postei o artigo lá no blogue mesmo, pra ficar mais fácil.

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  11. Eu não tinha visto o comentário aqui, que coloca questões novas, quando li o comentário de cima. Voltarei aqui em outro momento, porque agora preciso trabalhar e, também, pensar mais sobre tudo o que foi dito.

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  12. A polêmica é boa, mas só para quem não viu um lugarzinho no alto do morro do Alemão chamado Microondas. Lá umas trinta pessoas da comunidade, que não concordavam com esses possíveis interlocutores chamados bandidagem, foram queimadas vivas.
    Apenas por ter morrido o Tim Lopes é que se soube delas.
    Não discordo que o Maluf ou o Garotinho são tão ruins quanto esses caras, mas dizer que eles dão segurança é uma mitificação e um equívoco.

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