quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

Buenos dias, Capitán!

No dia-a-dia ele fala pouco. Assim quietinho chegou a primeira vez, desembainhando a cuíca e pedindo licença pra sentar na roda. Olho azul, cabelo louro, a rapaziada desconfiou. Mas não é que o alemão sabia do riscado? E foi fazendo com a gente aquela camaradagem de samba e butiquim, uma cervejinha aqui, um breque "chorado" na cuíca, a prosa boa da Zona Norte, meio malandra, meio caipira.

Até que um dia veio contar que ia comprar um butiquim ali perto, em sociedade com a irmã. O estabelecimento já era antigo no pedaço, mas não muito manjado pelo time do samba-choro que freqüentava ali o nosso reduto, administrado pelo bom Cidão. Mas camarada comprando butiquim é sempre notícia alvissareira. E assim começamos a passear por aquela meia-porta escondida atrás do cemitério, que aos poucos passou a receber a rapaziada musical de Pinheiros. Dali pras rodas de samba e choro se instalarem foi um pulo.

O tempo foi dando as suas voltas, o Ó do Borogodó hoje é o que é. E a irmã do Léo, como naquela velha canção do Caboclinho Querido em homenagem ao bairro da Casa Verde, "hoje é minha"... Mas o que eu queria mesmo lhes contar é que aquele que pra nós já foi "o alemão da cuíca", o "Léo do Sem Vintém", o "Leozinho do Ó", que conserva o jeitão desligado e o carisma dos olhos ainda jovens, basta só uma brisazinha de maresia pra se transformar, como nas histórias de heróis, no intrépido Capitão Léo Gola, assim mesmo, com nome de personagem de ópera! E eu juro que quem o vê pelo balcão do bar não reconhece o bravo enfrentador de vagas e marolas, faça sol ou faça chuva. Não lhe vê a barba russa eriçada pela viração, nem a tempestade de raios satisfeitos e trovoadas desafiadas que se lhe faz no céu dos olhos, de costume tão azuis.

Este que vos escreve dá testemunho de que quem o vê por trás da cuíca marota e da beleza plácida de garotão não sabe o tarado, o louco, o sanguinário, no convés de seu veleiro de três mastros, como na canção-retrato, basta a água salgada acarinhar de leve a barriguinha de seu Oxalá (o maior, como está dito!). Não tem noção da comoção e do respeito que provocam a simples menção de seu nome de rei, lá pelas plagas onde parece ter encalhado um barcão bem maior, todo vermelho, por cima de um rochedo quase dentro do mar. Não sabe que por ali ele manda chover e manda parar, conforme o capricho dos amigos a quem se põe a encantar.

Não conhece o desbravador da baía da Ilha Grande! O prefeito de Cajaíba, leão no nome e no signo.

O grande Capitão-de-Mar-e-Guerra Leonardo Gola! Meu cunhado, sim senhor!

Um comentário:

  1. Que começo de ano! Que texto! Que abertura! Eu também dou meu testemunho, de pé no banquinho imaginário, já que por lá estive duas vezes e nas duas pude ver, de perto, o poder do Capitão. Um grande sujeito que, vejam que beleza... Tem a irmã com você, meu irmão Szegeri. E a cuíca, guardada aqui comigo, presentão, o maior que já ganhei, ali, pau a pau com uma Parker tinteiro que um dodói (lembra-se?) me deu também.

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