Julio Vellozo
Brizola foi faca amolada e não esse sonhador bobo, espécie de nacionalista de folhetim, Policarpo Quaresma dos pampas, que andam pintando por aí. Quando soube da morte do Leonel - governador de dois estados, herói da legalidade, sujeito homem - fiquei comovido de verdade. E fiquei puto por ver a forma como pintaram o velho gaudério. Brizola foi homem de discursos e de ação, construiu escolas e pegou em armas, fez mais inimigos do que amigos, foi traído por muitos mas nunca traiu ninguém. Não precisava de retoques: se sua vida foi assim, que o deixassem morrer como viveu.
Homens como Brizola não conhecem meio termo, tem horror a hipocrisia e querem distância dos rapapés da formalidade. Ele não queria terminar a vida como se não tivesse inimigos, recebendo elogio choroso da Miriam Leitão. Tenho certeza de que preferiria um editorial da Globo bem feliz, comemorando a partida de mais um caudilho nacionalista e atrasado. Conhece-se o caráter de um homem pelos inimigos que tem, já dizia um sábio.
O pecado de Brizola foi amar demais, como talvez dissesse o Paulinho da Viola. Amou o Brasil de modo tão violento, tão passional, que fez política como quem defende um filho ou um irmão: com as vísceras. Quando a paixão e a razão se encontraram esteve no lugar certo, mas com o dobro da coragem dos simplesmente racionais. Quando a paixão e a razão se desencontraram esteve do lado errado, encontrou inimigos que não existiam, combateu pessoas a quem deveria se aliar. Acertou quando a vida pedia coragem, e errou onde a coragem não cabia na vida.
O Brasil deveria saber amar Brizola como ele o amou. Dos “filhos teus que não fogem a luta”, ele foi dos mais corajosos, sinceros, passionais e honestos. Ele não temeu quem adora a nossa pátria à própria morte. Estes agora querem transforma-lo em navalha sem corte. Pelo bem da história tomara que não consigam.
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