segunda-feira, 31 de maio de 2004

Pequena lista de grandes necessidades


Queridos, eis que não gosto de dizê-lo, mas como ninguém lê mesmo, aproxima-se a efeméride de meu natalício, que Jesus me concedeu compartilhar com seu primo João Batista, meu fiel protetor. Assim, fingindo que alguém além da dulcíssima Iara, a mãe de todas as minhas águas, quisesse me presentear, vai, à moda dos casamentos, uma lista acompanhada das respectivas justificativas, para que saibais não se tratar de luxo ou frivolidade, mas de necessidades prementes do corpo e da alma que a conta bancária não tem dado conta de prover. Infelizmente não foi aceita pela Camicado nem pela Cleusa Presentes:

- par de sapatos cor marfim ou areia, sem esse bico quadrado insuportável, que possam ser usados indistintamente com a calça branca adquirida no Saara, por ocasião do último carnaval, ou com a minha tradicional ocre, única que sobrou vestível após o recente incremento de mais uns cinco centímetros na circunferência abdominal (só para minha mãe: o marrom já arrumei, fuçando na sapateira do papai). Necessário solado de couro, eis que se destina aos salões;

- par de galochas, que procuro há anos, depois que desapareceu uma loja que havia na descida da Rua do Seminário, próxima à aparentemente falecida Praça do Correio (naturalmente, servirá para proteger os sapatos marfim, ou mesmo o meu pretinho surrado, que anda com a sola inconvenientemente absorvente e esse tempinho não está mole);

- o recentemente lançado Pará - Cores e Sentimentos (Belém, Ed. Escrituras, 2004, 96 páginas), livro de fotografias pelos excelentes Geraldo Ramos e Octavio Cardoso (para aplacar as saudades daquela terra que cada dia mais tenho por minha, e da qual me sinto injustamente exilado, nesses tempos de um inverno precoce, severo e extremamente enjoativo);

- o último disco do baiano Roque Ferreira, que já possuo, mas de tão necessário faz-se mister assegurar que não me faltará numa hora difícil (é bíblico: "dos que nada têm, até o pouco que têm lhes será tirado")

- três garrafinhas de conhaque de honesta procedência para tentar sobreviver a esse miserável inverno que parece ter chegado para ficar para sempre (não precisa ser Remmy Martin, Henessy, nem mesmo Fundador: um Macieira 5 Estrelas resolveria muito bem, mas agradeceria um Napoleón; só não vale Domecq, que eu adorava mas estragaram conspurcando a pureza do destilado de vinho, coisa que só o confrade Malavota não percebeu);

- uma bateria nova para o meu telefone celular (para que eu possa ouvir, nas madrugadas insones e geladas de bebedeiras vagabundas, a voz dos que amo e se encontram distantes, o que sempre nos pode salvar a vida num momento mais crítico);

- um par de sandálias, que não precisam ser da cor do meu chapéu de palha, mas têm que vir de Belém e terem sola de pneu e serem trançadas (não aquelas de duas tiras, que foram inventadas especialmente para meu compadre Moacyr Luz) e serem compradas na Praça da República (isso porque voltará a fazer calor um dia – a esperança é a última que morre - ou eu fugirei de vez pro Pará, ou eu vou morrer e não tem a menor graça este barbudo de alma cafuza ser enterrado de mocassim...);

- passagem de ida e volta (fazer o quê?) para o Rio de Janeiro (despicienda qualquer justificativa).

Sinceramente: parece-lhes muito ou descabido?

Um comentário:

  1. E aí já conseguiu todas essas coisas que precisava em 2004???
    Avisa, tá?
    Rsrsrsrs me diverti muito lendo.
    Bjs
    KIKI

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