quinta-feira, 13 de maio de 2004
Expulsar ou não: eis a questão
O governo brasileiro errou no episódio da expulsão do “jornalista” do New York Times? Sim e não.
Sim, porque, segundo a sábia lição que me foi ensinada por vovó, talvez valesse mais à pena fazer ouvidos de mercador e ignorar simplesmente aquele aborto do pseudo-jornalismo, do que, reagindo, emprestar-lhe a importância e significação que absolutamente não tem para o povo e o estado brasileiros. Vale dizer, deu-se munição para falarem até a exaustão os oposicionistas detratores, a imprensa subserviente aos interesses estadunidenses e mesmo para o ecoar renitente do fato pelo mundo afora. Questão de mera política de comunicação, de que tanto entende o ora discordante e sempre festejado Duda Mendonça.
E não por uma pletora de razões. Atenho-me às elementares.
A primeira, de ordem eminentemente jurídica, diz respeito ao princípio orientador do direito internacional consubstanciado no ideal de reciprocidade de tratamento. Ora, nesse sentido, despiciendo imaginar o que aconteceria com um profissional brasileiro de comunicação que, de dentro de território estadunidense, resolvesse de maneira caluniosa e alheia aos mais elementares princípios do jornalismo minimamente responsável e democrático, resolvesse enxovalhar a honra da máxima instituição nacional baseada em boatos e disque-disques oriundos das mais suspeitas fontes (aliás, gostaria muito de não acreditar no aventado envolvimento do governador Leonel Brizola no episódio, que macularia indelevelmente uma biografia dedicada à defesa dos interesses soberanos da nação brasileira e arruinaria o respeito e admiração que sempre dediquei a si, malgrado as divergências democráticas). Nem se precisa ir tão longe. Por muitíssimo menos, artistas, intelectuais, cientistas e mesmo autoridades do estado brasileiro (que o diga o Deputado Gabeira, que agora curiosamente soma-se ao coro dos indignados com a “violência” da reação do governo), já foram impedidas de entrar em território ianque por supostas manifestações de sentimento anti-americano.
Outra, porque é evidente o tom conspiratório do artigo. Diferentemente do que afirma Clóvis Rossi na Folha de hoje, as alusões às articulações internacionais para a desestabilização da liderança de Lula no cenário latino-americano não partiram de paranóicos do PT ou o que o valha. Partiram primordialmente do respeitado jornalista Jânio de Freitas, seu colega no mesmo veículo. São tradicionais, aliás as relações pouco transparentes da grande imprensa estadunidense com as atividades de ingerência externa da política da Casa Branca, sobretudo no continente americano, que os primos do norte teimam em enxergar como seu quintal. Ignorá-las seria ingênuo, senão mal-intencionado. Não esqueçamos que a política externa do governo Lula tem incomodado particularmente os interesses conservadores e servilistas, tendo há pouco merecido reprovações nitidamente despeitadas por parte do embaixador maior da subserviência nacional, o senhor Fernando Henrique Cardoso.
Por tudo, então, entendo perfeitamente caracterizada a legitimidade da pretensão do governo brasileiro, que há de ter os aspectos de legalidade, caso formalmente questionados, devidamente examinados pelas instâncias competentes. Não me convence a gritaria indignada da imprensa (só a Folha de hoje dedica oito páginas inteiras ao episódio) e principalmente de alguns setores políticos compostos por muitos que docil ou cooptadamente se calaram quando deveras nenhuma liberdade de informação o país desfrutava.
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