segunda-feira, 23 de maio de 2005
Sindô e Simon
Nos últimos dias, a música brasileira perdeu dois grandes personagens. Tão grandes quanto esquecidos.
Hélio Sindô (Hélio Rodrigues Sindeaux), paulistano de coração e cearense de nascimento, foi um dos grandes violonistas da noite desta cidade durante três décadas pelo menos. Intérprete, parceiro e amigo de Adoniran Barbosa, compositor importante, gravado por gente do tamanho de Aracy de Almeida, conheceu seu maior sucesso com o belo samba "E Você Não Dizia Nada" (com José Sacomani e Jorge Martins), gravado magistralmente por Gilberto Alves na década de 50.
Conheci o malandro pelos butiquins das Perdizes da década de 80, apresentado pelo meu irmãozinho Jason, cujo homônimo e saudoso pai - conhecido crooner de importantes casas de dança da noite paulistana como o Avenida e o Vila Sofia – com ele trabalhara durante duas décadas. O velho Sindô, então já caminhando para os 80, ainda tinha o violão e a voz seguros e as histórias na ponta da língua afiada. Dizia-se parceiro de Ataulfo Alves no famoso samba "Pois é...", mas nunca consegui uma confirmação dessa história, nem mesmo registro da parceria por qualquer meio.
E os descaminhos tão díspares e fortuitos da vida que me levaram a figuras maravilhosas da música brasileira, bem antes de eu ser intrometido como hoje (entre os quais o grande Roberto Ribeiro e, acima de qualquer outro, sua majestade Luiz Gonzaga), levaram-me também o compositor Victor Simon. Naquelas mesas do semi-finado Bom Motivo tomei com o velho bamba várias cachaças e lições. Como também numa madrugada, telefone no viva-voz, ele derramando mágoas, histórias e preciosas informações para o incansável Roberto Lapicirella, um dos grandes responsáveis pela memória deste e de outros personagens que honrada e competentemente fizeram a história e a grandeza da música popular brasileira não estarem completamente varridas do mapa. Muito diferentemente, aliás, de certas figuras que, recém-chegadas à cena, parecem julgar-se os responsáveis pela "redescoberta" da história da música brasileira, sem a menor preocupação com se suas acusações descabidas - certo motivadas mais por ignorância do que por qualquer indício de má-fé - possam levianamente enxovalhar a memória de um artista batalhador, honrado, competente e sofrido como Victor Simon. Leiam no texto abaixo, de autoria de alguém que escreve por que conhece e conhece porque estuda, a demonstração do descabimento dessa injuriosa afirmação.
Apesar dos belos currículos, nenhum dos dois malandros recém-embarcados para aquela estação de onde nunca se volta é sequer mencionado, por exemplo, na Enciclopédia de Música Brasileira, nem tampouco no empavonado Dicionário Cravo Albin. Possivelmente por darem menos ibope - ou dinheiro - do que o Simoninha e o Max de Castro, esses devidamente agraciados com os competentes verbetes.
Ante o descaso dos grandes e a incúria dos pequenos, deixo-vos com quem sabe das coisas, trabalha sério e não gosta de aparecer. Com vocês, Victor Simon pelas mãos seguras do meu querido amigo Caio Silveira Ramos.
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